domingo, maio 28, 2006

As Nossas Crianças

Com o aproximar do Dia da Criança, recuperei este texto aqui do “baú”… É realmente incrível a diferença da juventude retratada nestas linhas com aquela que é vivida hoje pelo meu irmão por exemplo…

Ainda no outro dia me apercebi disto… Ele não sabia que existiram televisões a preto e branco e que só tínhamos dois canais!!!

A festa que eu fiz quando passei a ter uma TV a cores... E os despistes que tive com os meus carrinhos de rolamentos!!!
Andava pelo pinhal, todo o dia! Depois de almoço fazia o meu lanche (pão com geleia) e “ala, que se faz tarde” para a minha cabana, construída por mim com ramos de pinheiro!…

Telemóvel? Bastava o assobio do meu Avô Andrade ao final do dia… Ouvia-se a centenas de metros de distância… Ainda hoje conheço a melodia de cor.

"Para os nascidos antes de 1986

De acordo com os reguladores e burocratas de hoje, todos nós que nascemos nos anos 60, 70 e princípio de 80 não devíamos ter sobrevivido até hoje, porque as nossas caminhas de bebé eram pintadas com cores bonitas em tinta á base de chumbo que nós muitas vezes lambíamos e mordíamos.

Não tínhamos frascos de medicamento com tampas "à prova de crianças" ou fechos nos armários e podíamos brincar com as panelas. Quando andávamos de bicicleta, não usávamos capacetes.Quando éramos pequenos viajávamos em carros sem cintos e airbags - viajar á frente era um bónus.


Bebíamos água da mangueira do jardim e não da garrafa e sabia bem. Comíamos batatas fritas, pão com manteiga e bebíamos gasosa com açúcar, mas nunca engordávamos porque estávamos sempre a brincar lá fora. Partilhávamos garrafas e copos com os amigos e nunca morremos disso.
Passávamos horas a fazer carrinhos de rolamentos e depois andávamos a grande velocidade pelo monte abaixo, para só depois nos lembrarmos que esquecemos de montar uns travões.


Depois de acabarmos num silvado aprendíamos.Saímos de casa de manhã e brincávamos o dia todo, desde que estivéssemos em casa antes de escurecer. Estávamos incontactáveis e ninguém se importava com isso. Não tínhamos Play Station, X Box. Nada de 40 canais de televisão, filmes de vídeo, home cinema, telemóveis, computadores, DVD, Chat na Internet.

Tínhamos amigos - se os quiséssemos encontrar íamos á rua. Jogávamos ao elástico e á barra e a bola até doía! Caíamos das arvores, cortávamo-nos, e até partíamos ossos mas sempre sem processos em tribunal.Havia lutas com punhos mas sem sermos processados. Batíamos ás portas de vizinhos e fugíamos e tínhamos mesmo medo de sermos apanhados.


Íamos a pé para casa dos amigos. Acreditem ou não íamos a pé para a escola; não esperávamos que a mamã ou o papá nos levassem. Criávamos jogos com paus e bolas. Se infringíssemos a lei era impensável os nossos pais nos safarem, eles estavam do lado da lei.

Esta geração produziu os melhores inventores e desenrascados de sempre.
Os últimos 50 anos têm sido uma explosão de inovação e ideias novas. Tínhamos liberdade, fracasso, sucesso e responsabilidade e aprendemos a lidar com tudo…" .

As crianças de hoje têm uma vida totalmente diferente… No dia a dia, nas brincadeiras, na alimentação, em praticamente tudo!

Mesmo assim, ainda há algumas privilegiadas. O meu “puto” como carinhosamente lhe chamo, é uma delas. Pode brincar na Praceta ao pé de casa, ao ar livre, jogar à bola e andar de bicicleta até cair a noite, sem problemas com outras crianças, em vez de estar fechado em casa, ao computador ou agarrado à Playstation…


Tal como os “meus pequenos sobrinhos”, tem a sorte de poder ir à “fazenda”, respirar o ar do campo, brincar com os animais, jogar à bola no pasto e ajudar naqueles pequenos “trabalhos” que há sempre para fazer e acabar o dia todo “mascarrado” e empoeirado de tanta brincadeira!

Seria tão bom que se desse o real valor a estas "pequenas" coisas... Há tantos pais que hoje em dia não deixam brincar as crianças no parque "porque se sujam", nos baloiços "porque se aleijam", e nem sequer os deixam ir comprar o pão que fica ao fundo das escadas do prédio "porque não são capazes"...

Enfim... Como as coisas têm evoluído pela negativa, pergunto-me preocupado como será daqui a uns anos… Como será o texto para os nascidos depois de 2006?